quinta-feira, março 31, 2016

Nu peito

Coração que anda na mão
Escapole antes no chão

Então suspendo, coloco na boca: engulo
Engasga no esôfago
Falo o que falo que não falo e empurro

Coração de volta ao peito

Onde enterrar palavras que morrem na ponta da língua?

quarta-feira, março 30, 2016

Por favor, não me chame de flor

Chamei de flor porque você não deixa eu chamar de amor.

POF

Eita mlk

Uma semaninha só. Eu me aviso. É bom que dá saudade! 

Como se precisasse da ausência pra isso. Quando juntos, arianinhos, ela existe no durante. No ato. Encostados pele com pele e já saudade. Abraço, carinho, cheiros: acabei de chegar. Eu tava com saudade... aliás continuo com saudade, menina. Avalie no depois. Oito dias de depois. Um celular morto e triste sem SMS. Lacuna na quarta-feira de toda quarta-feira. 

Colchão fofo todos os dias com ciúme do tatame: tão pertinho, tão distante.

quinta-feira, março 24, 2016

Picuinha:

um veneno tão daninho quanto o ciúme.

quarta-feira, março 16, 2016

Francisco


Francisco vai nascer. Ele já tem um bocado de apelido carinhoso: Chico, Chicote, Chicória, Chicão e até Afonsinho (que a mãe não nos escute pra puxar a orelha). Pra mim ele é Francisco e pronto! Um nome bonito feito esse não carece de outro.

Ainda não conheço seu rosto e não tem como saber se os olhos serão enormes e famintos como os da mãe. A cor verde é o que menos importa nesses olhões de mundo, feixe de luz no escuro. Mira e tiro certeiro. Um dardo lançado bem no centro vermelho. Não dá pra saber e, ainda assim, não tenho dúvidas de que sim, serão. Aquelas coisas que a gente sabe sem ver.

Francisco não é o primeiro filho de amigas próximas mas é como se fosse. Talvez porque agora parece tudo mais real e palpável que na época de faculdade onde alguém tinha menino e parecia irresponsabilidade.  Ora, mas há pouco tempo alguns amigos tiveram filhos, programadinhos, casais casados, tudo conforme a sociedade espera. Ainda assim é como se Francisco fosse o primeiro.  Por que? Talvez por ser filho de Amanda. Amanda que até pouco tempo tinha como preocupação os cabelos vermelhos, o cigarro encaixado entre os dedos de uma mão e um copo de cerveja ou o que quer que fosse de mais alcoólico na outra. Um texto coerente, outro nem tanto, um genial, um emprego bom, a aula de balé, a São Salvador, as confusões.

Francisco não vem de um casal casado. Francisco não veio esperado e agora a gente só faz isso da vida: esperar por ele. Francisco não preparou ninguém, muito menos Amanda e agora nunca a vi tão preparada pra tudo o que vier em todo o tempo que a conheço. Francisco ainda não tem rosto - pra gente - mas já o enxergamos de sunga na praia dos Carneiros em um verão desses correndo pra lá e pra cá pedindo picolé. Ele ainda não completou 1 ano e a gente já dança um frevinho miúdo com ele no Acho é Pouquinho aos 3. Francisco me faz olhar a janela do ônibus e ter um cadinho de esperança no mundo mesmo estando tudo errado.
Ele não é o primeiro filho de amigos próximos mas é o filho de Amanda, uma mulher que vi  amadurecer, que tenho vontade de estar perto, que escuto com os ouvidos bem abertos e admiro de doer. Falo dela e meus olhos brilham, tenho certeza. Falo deles e meu peito infla.

Do susto em uma mesa de bar na Tijuca veio a surpresa: hoje não consigo imaginar uma dupla mais forte e esperada do que essa.

sexta-feira, março 11, 2016

Os filhos que não tive

Tereza e Maria, que seriam nossas crias, ficaram no meio do não.

Larali e Laramora, dois sucos e uma história, foram criadas em memórias mas não nasceram em Laranjeiras. E nem vão.

Menina, nossa filha pequenina, bateu asas e ficou.


Aurora, Maria ou João, no último relacionamento tão sedento, se perdeu em andamento e deu de cara com o chão.

Caetano, um filho apenas meu, ainda não nasceu.

Rua, uma menina do futuro, doida pra ser irmã de Caetano, agora vive em mim. 

Estou grávida de uma Rua que nem preciso parir pra ser larga e bonita, 

como todas por aqui.


quarta-feira, março 09, 2016

Antes de entrar, espere sair

Elementar.

Vale pra relacionamento, metrô e até sentimento: antes de entrar, espere sair.

terça-feira, março 08, 2016

Feminino, masculino

- (...) mas esse desodorante é masculino!
- Masculino?
-Sim, cheiro masculino.
- Mas o que é cheiro masculino? Minha mãe usa perfume "masculino" e é mulher.
- É, a minha também.


Até domingo eu achava normal separar o cheiro por masculino e feminino. E não só caí nessa como verbalizei tamanha loucura sem achar estranho durante todos esses anos.
Agora sinto-me tola. E aliviada.
Perfume masculino e perfume feminino é tão deprimente quanto o esquema azul e rosa para crianças. Ora, não pode um homem ter cheiro doce, cheirar a flores e frutas? Não pode uma mulher se agradar pelos amadeirados? Se gosto do cheiro no outro, não posso gostar em mim também?
Quem foi o danado que inventou que cheiro tem sexo?
Doido como a gente luta por igualdade e por um monte de coisa e, na entrelinha da rotina, ainda se pega caindo nessas armadilhas impostas desde sempre, grudadas na gente, difíceis de desgarrar.
Me entristece ver que ainda sou machista em deslizes que tantas vezes nem devo perceber ou que custo a sacar e que a estrada é longa, pra mim e pra um bocado de gente. Por outro lado me alegra bastante escolher estar atenta a isso dia a dia. Todos os dias.
A luta pela igualdade é nossa e mais que nunca é preciso estar atento e forte!
Feliz dia pra mulherada que escolheu educar e também reeducar-se. Vamos juntas que assim somos mais fortes!

segunda-feira, março 07, 2016

O cheiro de minha mãe

Quando chego em casa, antes mesmo de colocar o segundo pé pra dentro, brotam duas possibilidades: 

1) Reconhecer que mamãe tá presente pelo odor de seu cigarro, que sugere que ela tá quase morrendo no CandyCrush ou toda curva sentada numa cadeira qualquer jogando paciência em um notebook todo lascado pela maresia.

2) Reconhecer que ela não tá em casa pelo cheiro de seu perfume largado no corredor que me transporta pra imagem dela bonita, cacheada, bem sucedida e decidida mirando-se no espelho do meu quarto pra ter certeza que aquela roupa tá a altura de sua energia - solar.

Adoro quando minha mãe não tá em casa!

A chicória e o tempo

Eu sou do mato: de mato eu sou, do mato eu vim.

Serei mato sempre e sempre mesmo quando tênis, mesmo quando fumaça de carro e não de madeira queimando. Pra onde eu vou, carrego ele comigo. No jeitinho de falar, de olhar, nos pés calejados e descalços. No chão que eu sento. Nas pernas "sem modos" que se acomodam em cadeiras de restaurante, bancos de praça, poltronas de ônibus, avião e de sala de espera de laboratório médico. Pernas cruzadas, desalinhadas, suspendidas ou soltas por baixo de um vestido fino em uma festa de casamento.

É o meu jeitinho. Acho que vai ser sempre. Mas tem vezes que minha Aldeia fica distante e as memórias vão se perdendo com o passar dos anos, com a urbanização mental que sou exposta diariamente nessa cidade tão grande e tão caos que é o Rio de Janeiro.

Quando penso nisso fico meio muxoxa. Lembro daquela garotinha que andava na estrada de barro pra pegar a kombi e depois mais uns ônibus e muita caminhada com a mochila nas costas que era o mesmo que uma casa. Que não tinha uma escrivaninha pra ler. Ela lia deitada em cima de uma tábua que seu pai encaixou em um pé de caju, lá no alto. Do alto ela lia, alcançava uma fruta doce e travosa e por vezes cochilava ali mesmo naquela madeira que era de sua largura.

Agora, lembrando, me impressiono com o fato de que eu nunca caí lá de cima mesmo quando apagava, algumas vezes, por horas. Só despertava com o cíu-cíu-cíu das cigarras lá para as cinco da tarde, quando era hora de voltar.

~ ~

Em meio a rotina acelerada e doida de cidade grande, o alívio que vez por outra vem: uma memória até então guardada saltando na minha frente.

"Chicória!" Era o que a senhora ao meu lado pedia para o rapaz da feira. Quero dois punhados de chicória. Na hora eu travei a respiração, larguei os saquinhos de cenoura e tomate no tabuleiro e direcionei toda a minha atenção para a chicória que na verdade representava um pedaço de minha infância. Ali, fui transportada para os domingos de peixada.

"Mala, cata umas chicórias pra mim!", meu pai pedia com as mãos sujas de carvão e o peitoral, forte e bronzeado, suando em frente à churrasqueira. E lá ia eu, contente da vida, catar aquela folhinha de beirada crespa que nascia no meio da grama e dava o gosto do domingo. Me soltava no meio do mato e só voltava com as mãos cheias dela.

"Se ninguém plantou, como que ela nasceu aqui?" Eu me perguntava aos 9 anos. Me perguntei novamente agora, aos quase 28.

Domingos e mais domingos me sentindo a salvadora do peixe. Sem chicória o tempero não seria o mesmo. Sem meu minucioso trabalho de procurá-las em meio ao mato, também não. Mas o que me instigava mesmo era ver o orgulho de meu pai que transformava qualquer ato simples em uma grande gincana: missão dada e missão cumprida significavam a mesma coisa.

Sábado peguei a chicória nas mãos mais uma vez e senti Aldeia bem de perto.

O mato que me habita.

quarta-feira, março 02, 2016

Sobre paciência

De grão em grão a Carlinha enche o saco.