sexta-feira, julho 25, 2014

Pra ser água

                                                                                         a Danilo Galvão e Nathalia Queiroz



Pra ser água é preciso, antes, voltar a ser ideia. 

Voltar a ser palavra pra só depois ser toque e tato novamente.  É preciso desfazer-se. Fragmentar-se. Retornar ao broto, ao útero: (re)aprender a ser feto. Mutar do agora, peles, músculos e ossos, pra ser inteiro em outro espaço: de tempo e físico. Sentir cada pedacinho e vagarosamente iniciar o processo: dedos dos pés pra dentro dos pés. Pés entram nas pernas. Pernas se encolhem no centro da barriga. A barriga, agora grávida de dedos, pés e pernas, acomoda-se nos seios. Os seios, fartos de tantos membros, entranham a região do pescoço e promovem um nó bem no meio da garganta. Viramos, então, cabeça e garganta. Até que não suportamos a pressão e explodimos em fragmentos. Entenda: explodir, nesse caso, foi uma escolha. Desfizemo-nos. E finalmente retornamos ao broto, voltamos a ser feto e dentro do útero encontramos um canto quentinho e alentador de novo -  Estamos prontos pra recomeçar.

É dificil ser água. Chegar à essa condição. É doloroso. E é necessário.

Danilo tirou Nathalia de dentro do coração dela. E me devolveu ao meu com essa única imagem .

Natália virou água.

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