domingo, junho 30, 2013

pedido

meu coração pede sossego
um bocadinho de tédio nos sentires
precisa descansar

esvaziar pra poder preencher 

talvez só esvaziar

(é mais difícil colocar ou retirar sensações do peito?)

sexta-feira, junho 28, 2013

memoria de la cabeza x memoria del corazón

                                                                                                                               A Brecht

Terei esquecido esse negocinho que ainda insiste em acender, esquecido assim - à vera -  quando parar de uma vez por todas de, vez em quando, calcular que horas são aí só pelo prazer de te imaginar cinco horas à frente em algum lugar que gosto. E ver teu sorriso. E sorrir junto.  

Então restará 'apenas' as fotografias cheirosas em um álbum que, depois de um tempo, ficará dentro do movelzinho branco que pintei muito tempo atrás uma árvore e uma frase de Carlos Pena Filho. E então colocarei um monte de coisas em cima - do álbum e do meu coração. Do meu coração porque na verdade a minha vontade é deixar o álbum em cima da mesinha da sala ou do quarto, pra quem chegar em casa ver. E eu contar tudo de novo e meus olhos acenderem mais uma vez. mais uma vez. mais uma vez. mais uma vez. Até que as visitas se repitam e eu não precise mais re-falar. E aí sim eu poderei guardar o álbum no móvel pintado de árvore e Carlos P. Filho.

Mas antes, veja bem, preciso falhar nas contas das horas, revelar as fotos, transcrever os poemas e cartas no álbum, cheirar cada fotografia - e sentir o cheiro - dar uma choradinha de leve - ou nem tão leve assim, vá saber - deixar o álbum na mesa, correr o risco de rever algumas vezes, dipois guardar o álbum lá dentro do movelzinho branco que pintei uma árvore blá blá blá e, por fim,  arrumar umas quinquilharias pra pôr em cima dele. 

Bem que a ordem do processo podia ser de trás pra frente. 

Arrumar umas quinquilharias me parece o mais fácil!


quarta-feira, junho 26, 2013

6 am

a leleo


- Carlinha?!
- Oi! 
- Aceita o fim!

Eu costumo aceitar numa boa o fim de muita coisa - do salario do mês, de uma viagem, de um romance, de uma refeição gostosa, o fim do calor. Mas pra mim, algumas vezes é difícil demais aceitar o fim de uma noite.

Varal

Quando menina, entre uma brincadeira e outra na grama fria de Aldeia, eu ficava contente na hora que dona moça pendurava as roupas no varal à tardinha. Atravessava os varais correndo, dançando ou andando e todas as vezes com o rosto passando pelas roupas úmidas. Afogava o rosto e parte de meu corpo miúdo principalmente nos lençóis e cheirava bem fundo, era tão bom! Depois de tantos anos, mais de 15, fiz isso novamente. Cruzei o varal andando devagar, refresquei a face e cheirei, voltou tudo por alguns segundos. O mesmo varal, no mesmo lugar, apenas roupas de outras pessoas. O cheiro continua o mesmo, cheiro fresco.
-
Apenas hoje me dei conta de uma coisa tão antiga em mim -  sou invadida por uma felicidade quase que infantil quando cheiro profundo as coisas que gosto. 

segunda-feira, junho 24, 2013

Contagioso

Smartphone é feito bocejo. Em uma festa, na mesa de bar, no jardim ou no sofá - o primeiro pega e todo mundo pega junto.

Eu sempre sobro. O jeito é buscar mais uma cerveja!

quinta-feira, junho 20, 2013

Anamaria Teixeira Carvalho

Há pouco conheci Anamaria. Ela tava sentada na mesa ao lado da minha e, enquanto todos assistiam ao jogo de futebol, nós duas nos olhávamos. Eu olhava mais, também pudera, com aquela rosa enorme azulada no lado direito dos cabelos escorridos e aquele rosto tão firme, não tinha como não admirá-la. Dei um sorriso, puxei uma conversa, pedi uma fotografia: ganhei. Uma fotografia linda de sua imagem intrigante. 

Anamaria foi modelo fora do Brasil, fala mais de quatro línguas, tem uma voz afinadíssima e era considerada uma das mulheres mais bonitas de Ipanema na década de 60 (e também uma das mais ricas), nessa mesma época casou-se com o compositor Marcos Valle e tempos depois levou um pé na bunda daqueles. Há quem diga que enlouqueceu de amor. Há quem diga que foram as drogas. Eu não sei, talvez nem ela mesmo saiba. Hoje em dia é popularmente conhecida como A louca de Ipanema,  vive perambulando pelas ruas do bairro e pela areia da praia com seu biquini branco, o celular imaginário, a flor na cabeça e um carrinho de compras carregado de sacolas vazias brancas e azuis.




musa dos anos 60 da praia de Ipanema


Hoje essa mulher me deu o prazer de uma conversa leve, sorriu pra mim e falou que o cigarro não tava fazendo fumacinha bonita pra foto por conta do vento. 

Abaixo o retrato que tirei e a música Os Grilos, composta pra ela por Marcos Valle. A versão inglês se chama 'crickets sing for anamaria' com participação dela. 


https://www.flickr.com/photos/carla_alencar/9088684565/

Em 2011 o jornalista Chico Canindé lançou o documentário 'Anamaria - A mulher de Branco de Ipanema'. Até agora encontrei apenas trechos na internet, mas só sossego quando tiver esse vídeo em mãos. 

Agora estou tão excitada com tudo isso que, apesar de cansada, não consigo dormir. Já passeei pela alegria de tê-la conhecido até a angustia por sua história, triste. É incrível como existe um mundo gigante fora do nosso. E esse tava ali, do meu ladinho, esperando apenas que eu batesse à porta.

 

quarta-feira, junho 19, 2013

Pra quando passar

Vai ter um dia 
Em que eu e você
Não passaremos de poeira

Mas calma
Não se apresse
Hoje temos a vida inteira

Ficar triste é tão banal
Mau
Ficar triste é comer pão
É logo alí
É ir na beira
Que besteira

Larga disso
Vem comigo, com a gente
Que ainda tem a quarta
A quinta, a feira, a vida
As contas, os casos, os amigos
Os fracassos

Que ainda tem alegria

terça-feira, junho 18, 2013

a gente cresce, o mundo também


Quando criança, pouco importava a nacionalidade daquela gente que falava uma língua esquisita, usava chapéu e se mantinha passeando com uma câmera pendurada no pescoço. Se eram espanhóis, árabes, franceses, russos, nigerianos ou israelenses. 

Pra mim, todos eles eram americanos ou, no máximo (se houvesse um olhinho mais puxado), japoneses. 

Ruas lindas, ruas cheias

"Ainda vão me matar numa rua.
Quando descobrirem,
principalmente,
que faço parte dessa gente
que pensa que a rua
é a parte principal da cidade"


Leminski


Quinta-feira tem mais, muito mais gente na rua!

segunda-feira, junho 17, 2013

domingo no Aterro







- o que é um piquenique?
- quando chegar lá você vai ver!

na volta


- agora eu sei o que é um piquenique

- e o que é?
é um lanchinho divertido!



<3

A Quadrilha de Drummond

Explicação poética pra cadeia alimentar.

surreal

a verdade é que eu tô muito beba. nem é tão gtarde da madrugada e ainda assim eu deveria chegar em casa,. pegar a coberta, jogar em cima de meu corpo quente de sol de dia inteiro e dormir. mas não vou fazer isso. foda-se, preciso conta o que me aconteceu, nao é todo dia que a pessoa é quase infeliz ao máximo pra sempore e ao mesmo tempo tem a maior felicidade do planeta terra. passei um fim de tarde e inicion de noite em uma felicidade que eu nem esperava pra um dia de hoje. uma coisa abusruda de linda. uma coisa,. que nem esperava e pronto. meu pai, meus irmaos, minhas amigas, leleo e seu povo, mau. mau!! veja bem, qe grave. as pessoas que determinam que o domingo precisa morrer moram embora enquanto as outras ficaram com um casco de original a mais na mão. ficaram, ficamos. "leleo, depois dessa cachaça eu quero é festa", foi o que disse enquanto seus olhos brilhantes sorriam nos meus. fudeu. fudeu mesmo. a questão é quie to a linhas tentando contar o ocorrido e não falo. fim de noite, depois de horas, danças, piadas, conversas, risos e instante máximo de noite de domingo nós vamos embora. já na lapa, percebo que minha bolsa com a câmera (somente) ficou no bar. MEU DEUS. QUE VACULO. PQP. TO MUITO TRISTE VOU VOLTAR.  a essa hora todos ja estavam em casa me monitorando pelo celular. voltei no bar tendo a certeza que isso seria um batismo tristonho de minha volta para o rio. no caminho de volta no taxi eu pensava: o que sera de mim nessa cidade sem minha camera? isso pesou tão mais do que eu pensava... antes dessa necessidade de pensamento isso nem existia e nesse instante a minha câmera passou a ser minha melhor amiga, que me traía nesse instante de não, de perdeu, menina... de procura outra coisa pra viver nessa cidade, nessa vida. tão grave. pensei em chorar. o taxista me disse que poderia estar lá. e creia. ESTAVA. chorei, quase gozei naquele sofá de fim de noite, sozinha. nunca vi um fim de noite tão bonito. nesse instante eu pretendia pagar 137 reais de taxi, afinal, o que sao 137 reais perto de todo meu aperreio e do moço que foi tão bacana em dizer que minha bolsa - que ele nem sabia do que se tratava - taria no mesmo canto com a minha câmera e minha cinquientinha querida????

Entrei de volta no taxi sorrindo de um modo infantil e falei - segue copacabana. 433 é o caralho. vou de taxi, eu mreceço. e ele falou, te deixo lá. e eu falei, sim. rodolfo dantas, proximo a cardeak arcoverde, vamos lá. não, te deixo lá de graça. não moço, já voltamos da lapa e estamo inso pra copa, vamos lá, corrida normal. não, eu te deixo lá, tranquilo, passarei esse caminho de todo modo. não moço, eu pago, oxe. não, não precisa. desespero. mensagem pras meninas. e enquanto mau manda mensagem dizendo que coisa linda sou eu, eu respondo dizendo que to desesperada. fica de olho. santa teresa- copacabana de taxi de graça. quero não. desespero. medo.  fudeu. fica de olho. a noite foi tão boa. quase perdi a câmera, recuperei.

Tensa. tensa pra caralho. mensagem das amigas. mensagem do colega. minto attendendo o celular falando com voce e concordando que sei que meu celular é rastreaado como se isso fosse uma bobagem tao comum nos nossos celulares espertos de gente rica (???????). 

Resultado?

noite do caralho. câmera em mâos. Taxi de graça e essa história pra contar. beijos,.

sábado, junho 15, 2013

madrugada de sexta

memória das amigas
(eu sempre desconfio)

Taxista - moça, cuidado pra não derrubar o copo no carro
Eu - não há de quê

Taxi inteiro rindo

sexta-feira, junho 14, 2013

Através




à Maria

Ontem eu te vi me vendo por dentro e acompanhando com ar de surpresa cada palavra que eu falava. Palavras molhadas de cerveja. Ao menos já não são mais de lágrimas. E o que mais me impressionou foi a constatação de que você, minha amiga próxima há longos dez anos, desacreditava até ontem em minha capacidade de ser humana a ponto de sofrer. Era como se isso não fosse possível comigo, 'com calinha não', ou ao menos não desse jeito, com essa maturidade no ato de sentir, dor. Confusa (admitindo a confusão) e em carne viva. Viva! 

'Nunca te vi falando assim', foi o que você me disse com palavras e esses seus olhos enormes. E, ao mesmo tempo que te ví surpresa, te ví também contente. Parece que pela primeira vez nos encontramos nesse ponto máximo da vida e finalmente pra mim sofrer podia ser uma coisa natural. Como é pra você, como é para as pessoas que a gente conhece e também para as desconhecidas. 

Na verdade me espanta o teu espanto. Passei o dia pensando sobre isso. Eu tenho 25 anos e já passei por tanto nessa vida, tristezas profundas, traumas, perdas irremediáveis e você, que sabe minha história de cor e que dela poderia sair um filme cheio de lágrimas, duvidasse de minha capacidade de sentir vazios. Por que? Já me visse triste várias vezes. Já choramos juntas outras tantas. Mas parece que ontem foi mais real, né? Eu sai da condição de suporte, daquela que sempre tem os conselhos mais sábios, desapegados e leves para ser o outro lado, o lado por igual. Eu não sou de aço e apesar de levar a vida da maneira mais leve que se é possível, com esse otimismo que você admira tanto, eu ainda sou feita de carne, osso, coração e um bocado de músculos involuntários que eu sequer sei os nomes. Alguém que também sente necessidade de tanta coisa, inclusive desse vácuo. Por mais absurdo que pareça, também sei arredar, parar, acalmar e, quem diria, aceitar. Aceitar esse negócio estupendo, solúvel e volúvel que é a vida. Assim, da maneira como ela é e se mostra a cada nuance. 

Não reclamo mais, miro e sou alvo dela. A cada tiro, a cada queda. Levanto. E cá estou, contente da vida por ter te mostrado isso no alto dos nossos 10 anos de amizade. Quem sabe agora não podemos caminhar (ainda) mais próximas? Eu também sei sofrer, tas vendo? Você que nunca viu. Ou eu que nunca mostrei. Um a zero pra gente.

Toma o teu, otário!

Voltando da praia, canga transformada em vestido que amarra no pescoço só pra lembrar que a década de 90 existiu. Moço passa com uma bicicleta enorme de carga perguntando se quero namorar com ele. Você é linda. Morena delícia. Pedalando lentamente e olhando pra trás. E, enquanto eu desejava sua morte - lenta - ele, ainda virado em minha direção, bate no muro lateral do Copacabana Palace. Bicicleta de um lado, homem do outro. E você é feio, muito feio. Foi o que eu disse de boca cheia enquanto ele levantava amoado e envergonhado. Toma o teu, otário! Gritou o rapaz que carregava uma quantidade gigante de rosas pra dentro daquele hotel de luxo.

quinta-feira, junho 13, 2013

Dia dos namorados

                                                                                                                                   A Jorge

ou `DnR: Discussão de não-Relacionamento` titulo sugerido por Bruno Abdon.

Quando percebi a emboscada que topei me meter, já era um pouco tarde pra desistir.

- olha, não é um pouco irônico esclarecer detalhes do fim de um ex futuro namoro justo no dia dos namorados?

-Ih, cara... Eu nem tinha me atentado pra isso. Mas é que amanhã eu tenho um evento e sexta eu viajo.

uma hora de conversa sobre qualquer coisa, como sempre acontece quando pessoas têm um assunto a tratar e a prévia se torna mais longa que o ponto em sí. Silêncio. Olhares que esperam uma palavra. A palavra que não é dita. Pergunta você, é o que penso, já que ele quem sugeriu a conversa. Estou esperando você me falar alguma coisa, é o que ele pensa, já que eu decidi tudo tão depressa e sem uma consistência esperada. Não estar mais gostando tanto assim não é motivo suficiente. É sim. Não é. Mais silêncio. Uma palavra que leva a outra. Uma espera. Uma pergunta, uma resposta. Um princípio de raiva. Uma lágrima, várias. Você devia isso. Você que não devia. Pausa. Não vamos brigar. Não vamos. Você é especial. Você também. Eu te amo. Silêncio. Um abraço forte. Outro. Valeu a pena. Sim. Estou com sede. Eu também. Um chopp da Devassa? Por que não? Dois chopps, por favor. Mesa com vela, casais se declarando, você na minha frente, garçom com dois chopps: ruiva pra você, sarará pra mim. 

-Garçom, ex futuros namorados têm desconto? 
- Não, minha filha. Deveria pagar até mais por ocupar uma mesa. 
- Ok. 

Risos. Outros risos. Olhar. Desvio. Silêncio. Um assunto qualquer. Vou embora. Te deixo no ponto de ônibus. Fui pra casa. Você também. Cada um pra sua casa. A vida é uma loucura.

quarta-feira, junho 12, 2013

Mind the gap

Mais perdida que qualquer objeto caído no vão entre o trem e a plataforma.

terça-feira, junho 11, 2013

Em aberto

Pensei que os objetos poderiam, de repente, ter vida própria. Imagina você acordar atrasado por que seu celular/despertador foi dar uma volta nas ramblas ao invés de tocar aquela sinfonia calma próximo às sete da manhã? Na hora H com a gatinha a sua camisinha estar no quarto do compañero? Os tomates e temperos na varanda. O guarda-chuva na farmácia da rua de baixo. A sunga no armário de Marina ou Sandra. As chaves da corrente da bike na biblioteca da faculdade, entre psicanalistas e economistas. Mas, claro, haveria de ter uma ordem. Os objetos poderiam ficar sumidos por até uma hora e só teriam serventia para o próprio dono, de modo que não adianta um engraçadinho cruzar com sua calça listrada de estimação pela Plaza del Sol e querer dar o ganho - não. E também que essa nova onda de vida própria aos objetos não estaria valendo para artigos públicos, como semáforos e lixeiras. Nos questionamos se esse novo mundo teria algum beneficio pra nós, seres humanos, e chegamos a conclusão de que seria o verdadeiro caos e que as pessoas teriam que trabalhar em cima da tolerância e da paciência. O que não decidimos, pois já estavámos chegando em casa - famintos e  molhados de uma chuva de dia inteiro - foi se seria possível uma relação de brodagem e negociação com os objetos. 'Bro, não sai de casa entre tal e tal hora não que vou precisar de tu, visse?' É, isso ficou em aberto.

sábado, junho 08, 2013

Paissandu

É a primeira vez em muito tempo que volto nessa rua, rua essa que sempre me levou até você. 'tô descendo do ônibus, já chego!' 'tá, eu te encontro no meio do caminho!' era o que você, ansioso que só, sempre fazia mesmo sabendo que passaríamos a noite inteira juntos. E fazia não por algum motivo decretado como perigo ou frescura, mas pelo prazer de estar quinze ou dezesseis minutos a mais comigo. E passávamos no mercado, cervejinha diferente, ingredientes para o jantar, parmesão, vinho, tomate italiano, chocolate do frade.

Dessa vez eu não ia ao seu encontro. Eu não estava voltando do trabalho. Não ia ter mercado, beijos e vinhos. 

A Paissandu é ainda tão bonita, mas com um sentido meio perdido. Me senti estranha a cada passo, como se não fosse de direito meu caminhar por ela agora, um guarda com caderneta em mãos pra me multar. 

Não consigo redesenhá-la com outro cheiro, outro gosto, outra vivência. E nem quero. Essa rua, depois de tantos meses, continua sendo a que me leva até você, mesmo que você não esteja lá. Mesmo que eu não queira ir. Mesmo que. Essa rua não carece de outro significado se ela já é carregada de tanta lembrança que eu, à época, nem prestava atenção.

MARIA MÃE DE DEUS e toda sua falta de nexo continua escrita em tinta branca naquela árvore. Mais desconexo do que isso, somente não te ver no meio ou fim desse caminho. Mas te encontrar no final da rua, isso sim seria coisa maluca. E foi.

Temperado

Não tem jeito. A hoje quando leio ou escuto "vidro temperado", de pronto eu vejo a noz moscada, pimenta do reino, orégano, sal, azeite e tomilho transformando aquele material cortante em um verdadeiro banquete.

quinta-feira, junho 06, 2013

Não confundir mobilidade com modinha

Faz algum tempo que o grande barato dos recifenses aos domingos é passear de bike pela ciclofaixa e, no fim do dia, postarem em suas redes sociais como isso é bacana, fotinhos da magrela, capacete, lancheira e uma caralhada de coisas típicas de quem passeia de bicicleta e não de quem anda. Não estou reclamando da iniciativa na cidade e muito menos da empolgação das pessoas, mas o que deveria ser levado como um movimento sério de mobilidade, acaba virando mais um entretenimento para as famílias cansadas do tédio dominical e para casais que querem ser saudáveis, nem que seja aos domingos. 

Não quero entrar no fato de que grande parte de meus amigos que estão nessa onda nem sabem que é necessário pedalar na mesma mão dos carros (algo tão elementar) e quando eu falo isso ainda acham que é frescura. 

Não quero falar sobre iluminação e segurança nas vias, no caso, na não segurança.

Não quero entrar nas questões que considero importantes a serem inseridas no contexto bike-recife antes de meterem uma ciclofaixa pra muitas pessoas que (ainda) não foram educadas pra lidar com ela - principalmente os motoristas de carro.

Não entro nesse debate simplesmente por saber que se é iniciativa, precisa começar de algum ponto. E quem sou eu pra dizer que ponto certo seria este. Apesar de achar que já começaram na metade de um processo.

Mas uma coisa não tem como não colocar em xeque: Enquanto os numerosos carros dos meus amigos continuarem transitando pela cidade durante  toda a semana e ficando na garagem apenas aos domingos enquanto eles (agora atletas) pegam a bicicleta emprestada do vizinho (ou aquela que acabaram de comprar ou ainda a que estava encostada no quartinho dos fundos) pra dar um rolé pelo Recife Antigo nesse dia ensolarado, a mobilidade vai continuar sendo modinha.

Mau

Pensava que meu blog nunca pudesse receber esse texto. E ainda estou um pouco sem jeito de como escrevê-lo, com medo de cair, mesmo sabendo que não, no nosso antigo vício de 8 e 8.000. É que foi tão leve que nem parecia você. Nem parecia eu. E o problema - sabemos - nunca foi cada um de nós, mas sim essa mistura ariana demais. Ao menos não culpo mais os astros, apenas menciono. 

Nem sei quantas vezes tentamos, em vão, qualquer coisa parecida com isso, esse negócio que ainda não sei nomear. Sei que vem depois de entendimento e antes de cumplicidade. É parecido com quase vontade mas não é, vontade tem. Acho que esse troço não tem nome por ainda estar se formando. Criando corpo, roupagens e pernas pra andar com os próprios pés, sem os nossos pra atropelar tudo, todos, a gente.


O que sei é que quando eu ía você corria tão depressa... Quando você finalmente vinha eu estava no outro quarteirão impondo entre nós uma muralha maior que a da China. Foi preciso um problema teu e meses de distância geográfica pra esse abraço? Não sei, o motivo não me parece fazer diferença alguma. A diferença tá no abraço. Não falo do abraço ato de quatro braços em comunhão se enroscando, pois sempre fomos bons nisso, mas falo de todo o entorno que esse abraço bem apertado pode envolver. O antes e o depois. O abraço no chão gelado de Santa Teresa com cheiro de Raica gordinha e silenciosa entre nós, recebendo e dando todo o carinho do mundo com sua linguinha de presunto.


'Queria tanto ficar te abraçando e te dando carinho', foi o que você me disse.


Quem sabe agora, depois de tudo, depois de todos, depois da gente, a gente não possa ser amigos. 
Quem sabe a gente não possa apenas ser.

terça-feira, junho 04, 2013

The one




Enquanto não vens
sigo o caminho torto
de tanta gente
e ninguéns

segunda-feira, junho 03, 2013

Quando um botão decide a vida. Ou a morte.

                                                                                                                                     A vôvô

A velhice é a voz da experiência, um óculos redondo com olhinhos apertados por detrás e uma carinha fofa, apertável. 

Mentira. Tudo mentira. 


Quem pensa isso decerto nunca viu a velhice de perto, sem vestimentas, literalmente. A velhice não é bonita. Ela é degradante, deprimente e fedorente. Ela fede a mijo e pede pra não existir a cada reação. A velhice treme, teme, escorrega e se caga, toda. A velhice te faz velho demais pra querer ajuda e muito criança pra não aceitá-la. A velhice é uma droga forte e pesada. Palavras vazias, soltas. Velhice é uma cabeça que eu não tenho a mínima ideia de como funciona. São horas que demoram dias pra passar. Um quarto com quatro paredes. Um lençol sempre por trocar. São ferros por todo o banheiro. Velhice é não querer comer com a mão dos outros. Não querer mais falar um assunto desconexo. É ter uma eterna preguiça. Velhice, aquela já bem velha, é um olhar vago, vesgo. Um olhar que não vê. Um engasgo, um fiapo, um fardo enfadado. Velhice é aquele dia que tá sempre bem longe pra nós, jovens, e que mora no agora do meu avô. Velhice é tirarem o seu bigode e pulseira de uma vida inteira sem pedirem sua permissão. Na velhice, a decisão sobre sí mesmo já não vale mais de nada.   

domingo, junho 02, 2013

Sobre a morte II

Poucas coisas são tão certas quanto a morte e, apesar disso, uma vida inteira é sempre muito curta pra tornar essa ideia - quase que hipotética - real, natural e palpável.