segunda-feira, setembro 30, 2013

Pra saber que é amor

                                                                                                                               A Mauricio

Amor não é como a gente escolhe e não vem na embalagem que mais agrada, a embalagem bonita da vitrine. Amor às vezes vem quando a gente tá sujo, tá triste, tá querendo fugir da gente. Tá com a blusa manchada e a alma também. Amor não enxerga a cor da blusa, tampouco a cor do momento. Amor costura. Faz curvas e mais curvas em torno das nossas ideias, das nossas vivências, de nossas falhas, nossas doenças. Amor não escolhe a hora e nem o erro mais bruto. Também não escolhe pelo feliz acerto. O amor não escolhe, ele nasce. Nasce de um terreno capinado ou por entre os matagais em abandono. O amor brota. Ele dá um cadinho de esperança mesmo quando tá tudo errado, quando tem buraco, um espaço mal cuidado. 

Amor é um colo quentinho, os braços agarrados nas pernas e cheiro no ombro de olhos fechados, involuntários. 

Amor é isso e se não for é outra coisa, tão latente quanto, mesmo quando vaza, escorre, catuca. Mesmo quando dor.

sexta-feira, setembro 27, 2013

RIP CAIÇARA






Hoje é dia de luto
Coração em poeira
Restos de história
Por baixo da britadeira

Construtora de cú
No cú do Recife
Quase 500 anos de história
E a mesma canalhice

A casa
Cai
A cidade não sara
Com trocadilho horroroso
Feito Recife,

ALIENADA

quarta-feira, setembro 25, 2013

Central do Brasil

Hoje, cheguei na estação por volta das 15h e, ao invés de pegar o subterrâneo para o metrô, me abestalhei e acabei sendo levada pela multidão, seguindo o fluxo 'sempre em frente'. O portão que é enorme se mostrou pequeno demais pra tanta gente apressada na vida. Pra ir e vir. Sabe-se lá pra onde. Quando me ví finalmente só, a muvuca já distante, realizei onde estava, dei um sorriso engraçado e te encontrei. Você tava perto daquela banquinha cheia de coisas pra vender, de blusinha Huebra e me perguntando o motivo de eu não estar bebendo. Expliquei e então comprei uma água, um salgado e fomos em busca dos seus amigos, do aniversariante e do que parecia com você, "de barba e é mais ou menos da minha altura". O samba já estava fervendo, clima de carnaval carioca, moças bonitas com cara de maquiagem ofereciam pulseira para o trem vip que, em cinco minutos, estaria partindo para Madureira. Achamos seus amigos e corremos pra comprar os tickets. Quando finalmente chegamos na plataforma, o trem partia sem nós, sem pena. 

Foi quando me ví novamente só e tomei o metrô linha dois para Coelho Neto, depois Rocha Miranda.  

Grão e vida ou o desejo de felicidade

Aldeia


Com quantos grãos se faz uma fotografia? Com quantas fotografias se faz uma história? Com quantas histórias se faz uma vida? Com quantas vidas retornamos ao grão? 


Os questionamentos são em homemagem aos assuntos que tavam rolando nesse balcão: fotografia analógica, digital, laboratório de revelação e tudo o mais que duas mentes curiosas podem trocar. 

(gente especial faz aniversário no mesmo dia. Parabéns aos dois librianos! Vida longa à curiosidade por esse negócio vivo e latente chamado vida!)

terça-feira, setembro 24, 2013

A alegria de uma nota triste



Enquanto tento me concentrar no meu livro, identifico a nota alegre das teclas do piano, lá longe. E fico imaginando se é uma criança, um rapaz, uma menina, um senhor. Decerto é alguém treinando um exercício repetidas vezes, não me queixo, é bonito. Até as falhas das notas são bonitas. Mas essas são notas alegres. Aprendi com você, rapaz da fotografia, o que são notas alegres e notas tristes. E como em uma brincadeira, alguns testes de ouvido você me fez. Eu prefiro as notas tristes, me tocam mais. Chegam junto, entram nos poros e ficam por algum tempo. As alegres batem e voltam, correm mundo com certa pressa. 

Eu queria dizer pra pessoa do piano lá de longe, pra essa criança, rapaz, menina ou senhor, que eu ia ficar feliz que só se ela tocasse uma nota triste nessa minha tarde chuvosa. 

Rodamundo

O mundo vai girando, girando lentamente e aos pingos mostrando suas nuanças leves outra vez. Um tom verdinho claro, outro azul. Verbena, cravo e hortelã. E eu vou girando junto, a saia contornando meu corpo, a respiração que escuto a cada passo. Uma luz de fresta que vem da janela iluminando meus olhos, ou seriam meus olhos que vão iluminando o ponto de luz que vem da fresta da janela? Uma troca. O mundo girando, girando, eu girando junto, as cores, as formas, o ar, a respiração, o sorriso brotando no meio da rua. A rua brotando firme para meus passos. Meus passos se decidindo, se encontrando, voltando para meus pés. 

segunda-feira, setembro 23, 2013

às 6h45

- ?? alô ??
- Oi! Tá tudo bem?
- Tá
-Tava dormindo?
-Tava...
- Lembra que depois de amanhã é meu aniversário?
- Lembro, né
-Tá, era só isso, pra descontar a sua ligação no ano passado
-Mentira, né? hehe boa noite
-hehe, bom dia e acooorda!

Raica



O cheiro forte, as patas largas, a mansidão experiente - imponente e tranquila em frente de casa. Dourada, graúda, respeitada pelos outros integrantes da família, daqui eu enxergo seus olhinhos tristes, cansados, distantes. E uma vontade tão grande de correr ao seu encontro, mergulhar a cabeça no buchinho, ser lambida sem piedade enquanto os demais atrapalham com mordidinhas de ciúme nas minhas mãos, mas não tem jeito, ela sempre tem a manha: com a perna arreganhada pra acarinhar, raica é uma preguicinha solar. E delicinha também, me encanta.

* acordei com você na cabeça, acho que foi sonho...

domingo, setembro 22, 2013

Avesso

todo dia
toda hora:

bocado pra dentro
um pouco pra fora

sexta-feira, setembro 20, 2013

Mal moderno

Estamos (quase) sempre atrasados e, ao mesmo tempo, duas ou três estações de metrô à frente da realidade. Um quarteirão mais perto do destino final ou, no mínimo, "em 10 minutinhos eu chego!". Dez minutinhos que sabemos ser 20 ou 25.  Até quando não há atraso, quando vai dar tempo, sentimos necessidade de estar um passinho adiante, 

mesmo que não seja verdade.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Pra ser mato


Deleuze cita Henry Miller: o mato só existe em espaços não cultivados. Ele preenche os espaços vazios. Cresce entre, no meio de outras coisas. A flor é bela, o repolho é útil, a papoula enlouquece, mas o mato é um transbordamento, uma lição de moral.






Por entre, pelo meio, pelas beiradas. Crescer, ocupar, permear. Sorrateiro, sem alarde, sem ataque. Crescer de ponta à ponta, rasteiramente. Crescer, tão só e somente.




quarta-feira, setembro 18, 2013

Entressonho

Na verdade, estou dormindo. Apesar do ventilador de teto ligado e minha cama embaixo de meu corpo morno, ainda não puxei o lençol, ví o celular pela última vez, pensei pensamentos, virei de bruços, posicionei minhas pernas do mesmo modo de sempre: uma esticada e outra dobrada quase 90 graus. Tampouco comecei o jogo de noite inteira com o travesseiro, virando para um lado e, quando quente demais, para o outro, pra refrescar. Ou aliviar alguma coisa mais abstrata do sono. Mas estou dormindo. E essa música permeia cada pelinho do meu corpo. Mesmo não havendo tantos pelos nele. As notas chegam suaves e minha respiração fica lenta. Meu corpo quase que flutua. Uma nota doce, calma, talvez triste. Uma nota barulho de chuva pra dormir melhor. É isso, uma nota de chuva pra fazer dormir melhor.





terça-feira, setembro 17, 2013

Saudade perigosa:

é deixar o celular bem distante e no silencioso pra não cair em tentação.

segunda-feira, setembro 16, 2013

Das teorias ébrias




Fim do sábado no Bar da Cachaça, 

a Calani e Ana Paula



Um dos maiores erros nos relacionamentos, sobretudo os mal resolvidos: ter a certeza quase que absoluta do que o outro tá pensando. De pronto as suposições tornam-se verdades. E quase sempre estamos errados.

domingo, setembro 15, 2013

Pra quando eu voltar


A Jorge

Esse texto vai pra você. E ele é seu antes mesmo de ter começado a escrever. Aqui é apenas uma extensão do que nem era palavra ainda, eram lágrimas. Lágrimas acompanhadas de soluços. Soluços altos. Eu vou melhorar e a cada passo, pequeno que seja, vou lembrar de você e, baixinho, vou agradecer. Eu vou voltar. E quando isso acontecer eu vou fazer questão de te dizer isso olhando nos olhos pra retribuir todo o carinho dos teus braços, que mesmo cansados e sofridos nunca me faltaram, pelo contrário, se esticaram até mim até quando eu não pedia. Até quando eu sequer merecia - tua atenção, teu amor, tua cumplicidade e amizade.

Eu vou voltar e quando isso acontecer eu vou chorar novamente. Mas dessa vez vai ser um choro emocionado, aliviado, um choro talvez feliz. E vou te agradecer novamente.

Quando eu voltar, para meus braços, meus passos, olhos e coração.

Quando eu voltar pra mim e pra vida, você será o primeiro a saber.

sábado, setembro 14, 2013

Ana Paula:




                                                 

                                                  a extensão do meu sorriso carioca.

quarta-feira, setembro 11, 2013

Quando você acertou

Dia desses fiquei chateada da vida por você ter me dito, com ar de quem não queria mais se magoar nessa vida, que eu era sempre cheia de amores. Discordei de prontidão e, se duvidar, ainda revidei infantilmente cuspindo que quem tem um monte de amores é você. Talvez pra me livrar da culpa da verdade ou pra não cair tudo, eu você, nós dois, nosso passado e um violão guardado e pesado em minhas costas. Mais uma vez. Mas, se quer saber, eu tenho sim, tenho mesmo muitos amores e quero que você saiba disso, mesmo sabendo que você já acha que sabe sem na verdade saber ao certo. Apenas um verde possível. Mais um entre tantos que você coleciona. Tenho vários amores, você é um deles e vai continuar sendo, acredite você ou não. Meu coração é desproporcional ao tamanho da caixa de ossos que o envolve e, antes que você diga ironicamente que sabe disso como ninguém, te adianto que nem sei como ele cabe aqui dentro sem se apertar todo, sem esmagar, sem sufocar você, vocês. Cabe cada um e todos e ainda te digo mais: cada qual no seu espaço, não se misturam, não se confundem em histórias, flores, confidências, cartas, beijos e vinhos. Culpa? Não. Meu coração só é desse tamanho por conta disso, assumo o risco. E assumo feliz. Amores bem vividos é pra quem constrói. Amores falidos também. Você faz parte das duas categorias e ao mesmo tempo de nenhuma dessas. Uma semente eternamente prenhe, carregada de amido, doida pra explodir e se tornar novamente alguma coisa, outra coisa, qualquer coisa. qualquer coisa nova, mesmo sendo tão antiga em mim. Só peço que, da próxima vez, não esqueça: as explosões de amor ganham mais minha atenção que as de mágoa descabida. 

terça-feira, setembro 10, 2013

Lembrete CPY



tá fazendo um ano dessa foto, lá fora...

e depois um que você foi embora (...)

quinta-feira, setembro 05, 2013

Quando encontro com ela sem encontrar

A não possibilidade do encontro ao acaso corta a veia da saudade, aquela que pulsa de esperança, bem no meio. Sem a possibilidade do encontro, ela se torna a única veia que quando cortada ao meio não jorra. 

Essa é a veia da saudade que não se mata. 

sábado de carnaval

O cheiro da tua casa


                                                                                                                                     A Jorge

Tua casa, como a de ninguém, começa pelo hall de entrada. Naquele espaço estreito já é possível se sentir praticamente na sala. É o mesmo cheiro. Um cheiro de família que eu só havia sentido antes e igual na casa de Sofia. Mas não é cheiro de família recém formada. É cheiro de no mínimo quatro pessoas dividindo o mesmo espaço e a vida há muitos e muitos e muitos anos. É um aconchego só, mesmo sendo em uma área tão grande. Depois da sala, o corredor curto que serve de artéria para os outros cômodos, vem como um arrepio leve: pra direita é o quarto dos pais, pra esquerda é o da irmã e o da frente, entre um e outro, fica o seu, seguindo a linha do mesmo cheiro-aconchego, só que dessa vez mais, muito mais. A leve bagunça que perpetua na poltrona, poltrona que serve apenas pra guardar suas roupas do dia, dão um ar ainda mais gostoso naquele lugar marrom, pastel, fotos, bilhetes e ingressos de shows antigos com preguiça de serem trocados por uns mais recentes. Livros que você nunca vai ler servem de consolo aos meus olhos enquanto você vai buscar água na cozinha. O teu quarto, pra mim, além do cheiro geral da casa, também me remete ao passado, um passado bem pertinho, dá até pra correr e agarrá-lo se quiser. E também me remete ao tempo vazio e depois ao tempo presente: a fotografia que ficava embaixo da luminária e ao lado da cama, agora encontra-se em alguma dessas gavetas de madeira maciça que exalam o cheiro da casa. O tempo e o espaço se confundem e é estranho voltar alí mais uma vez. Percorrer você e o que somos separando do que fomos e seríamos é desafio para poucos. Vejo de maneira transparente que somos rascunho daquilo que muita gente gostaria de ser. Um rascunho perfeito do que todo relacionamento deveria ser quando se passa a limpo. Passar a limpo é perigoso, passar a limpo é o mesmo que assinar um documento importante. Passar a limpo é de uma responsabilidade que a leveza das coisas tranquilas não permite.  

Passar a limpo é borrar de tinta de caneta o papel. Somos rascunho e talvez por isso ainda permanecemos na vida do outro. Acredito que de alguma maneira continuaremos assim, rascunhando a vida por muito tempo, até a casa perder o cheiro.

Como é que vocês não se conheceram antes?

Sempre me perguntam isso quando me veem falando de você com um brilho nos olhos que mais parece purpurina em sábado de carnaval. É que é um lance muito mais astral do que tudo, todo o resto, restos que não são restos, são inteiros e enormes, diga-se de passagem.

Hoje eu entendo o motivo e me sinto em estado de alegria imensa por ter sido assim, ainda mais quando nos vejo falando sem parar, na mesma empolgação de sempre. As vezes tas tão presente que nem parece que tem esse negócio tão imenso, líquido e medonho chamado oceano entre Rio de Janeiro e Karlsruher.

Não nos conhecemos antes porque esperamos o espírito ficar o mais livre que fosse possível pra suportar tamanha felicidade sem adoecer depois.



parceria forte aqui era nós dois.
(a legenda tinha que ser maloqueira, claro!)



terça-feira, setembro 03, 2013

No limbo

                                                                                                                               A Mauricio

Você consegue burlar uma a uma as pequenas regras de boa convivência com esse músculo que pulsa por debaixo de meu decote. Eu te dou a faca pra você cortar o danado do queijo e lá está você tomando sopa de garfo. Qual a parte da faca que você não entendeu? Você gosta da ideia de ser, de ocupar, de fazer parte e até mesmo de ser suficiente, mas não sabe trocar. Esqueceu daquela teoria tão elementar da via de mão dupla nos relacionamentos - sejam eles quais forem - mas não adianta, não te darei o gostinho de armar acampamento na lista negra de meu coração. Por intenção própria, voltarás a percorrer este caminho sem intensidade e desinteressante que te pertence e que tristemente te cabe tão bem quando você decide ser nosso passado: um quase nada cheio de pendências inexistentes que criamos pra manter vivo isso, que é tão pouco, que não me basta mais. Já entendi que você gosta de uma confusão, do caminhar em calçadas diferentes, de ter motivo pra uma tromba deste tamanho em uma festa. Uma ceninha ou barraquinho, como você costuma dizer. Mas não vai para a lista negra, não vai, não adianta fazer por onde, com ou sem esforço. Também já pensei na possibilidade de você alegar que demoliram o limbo, que agora só tem céu e inferno, ora que tolice! Ao menos isso a meu favor: quem manda nos compartimentos de meu coração mosáico sou eu.

Beijos.

Daltonismo sentimental

Se os olhos podem enxergar cores distintas, que dirá a cabeça e o coração.

Não nos culpemos - há cores para todos os olhos.

Recalque

Quando a inveja e o ciúme decidem habitar uma mesma palavra.

domingo, setembro 01, 2013

Henrique, "o belga" ou meus 14 anos

Das coisas graves: a primeira grande paixão não correspondida. Uma parede enorme e branca fica à frente de nossos olhos. Nada mais pode existir após aquele muro de concreto. É bem claro que o mundo acabou.

Das coisas da vida: com o tempo a gente aprende que muitos outros muros serão construidos no nosso campo de visão. A diferença é que agora aprendemos a quebrá-los. Ou, ao menos, a enxergar vida além. E essa cena vai se repetir muitas e muitas vezes, amém!