quarta-feira, julho 31, 2013

O culpado

                                                                                                                                    A Brecht 

E eu descobri que você, do outro lado do oceano, estilhaça mais corações através desse meu blog do que eu mesma, que estou aqui, do mesmo lado do oceano. 

Que malvado que você é. 

ch ch ch ch changes

Faltam duas noites e um dia pra não ter a praia como vista da janela do quarto, mas um monte de árvores e escadarias. Pra não morar dez minutos a pé do melhor bolinho de bacalhau do Rio de Janeiro e do melhor alho em conserva, se pá, do mundo, mas morar a pé dos melhores botecos do Rio. Um diazinho de nada pra Ferreira Gullar deixar de ser meu vizinho e passar a ser vizinha de amigos do peito e de Santa Teresa. Para a feira do Lido se tornar distante às quintas, mas poder ir by foot na feira da Glória aos domingos. Pra deixar de ser a menina do Lido (?) e passar a ser alguma coisa que ainda não sei. Pra receber os amigos para um esquenta fim de semana sim e outro também em minha casa, agora um pouco mais espaçosa. O leme não vai mais ser a praia do lado de casa, mas a Lapa vai ser meu caminho de acesso para qualquer lugar. Vou perder o cheiro de maresia, vou ganhar um quarto-atelier. Não vou mais caminhando pra Ipanema, vou a pé para o centro da cidade. Não vou ter um metrô na saída da minha rua, vou ter uma bike feia e velha que ninguém vai roubar. Não vai ter o Zona Sul ou o Pão de Açúcar pra comprar coisinhas especiais, terei o Mundial pra não assaltar o bolso na feira de todo mês. Trocarei os travecos de Copa pelos... Travecos da Lapa. As noites depois do trabalho não serão mais no calçadão, ciclovia ou simplesmente andando pelas areias claras e fininhas da praia, mas serão no atelier-pessoal que terei um trabalho gostoso em dar forma e também na pracinha embaixo de casa e onde mais irei descobrir. Trocarei o barulho de carros à noite pelo barulho de crianças jogando bola. Duas noites e um dia pra sair de Copacabana-meu-amor e ir diretamente pra um 'suburbio real dos intelectuais inserido dentro do Centro', como dizem. E com direito a sorveteria, lan house, pega bêbo, brechós, muitos salões de beleza e lojinhas de R$ 1,99, mesmo que essas já nem existam mais, o que vale é o clima que dá vida àquele lugar. 

Bairro de Fátima, que a gente se dê bem muito bem e... que seja doce!



terça-feira, julho 30, 2013

Silêncio

Sonhei que atravessava a rua erguida pela língua. Acordei com a língua empoeirada. E muda.

segunda-feira, julho 29, 2013

xota m xota

Foi uma semana difícil. Copacabana foi tomada por japoneses, africanos, holandeses, franceses, italianos, brasileiros e muita gente hablando español por todas as partes. Minha rua começa na saída do metrô principal do bairro e termina na parte da praia onde estavam rolando as concentrações e, de plus, ao lado do palco principal. Pandeiros e apitos me acordando às 6h40 todos os dias. Pandeiros e apitos me levando à cama próximo às 4am todos os dias. Não tava fácil. Tive os desejos mais obscenos e obscuros no período e, exatamente nessa semana, eu tava fazendo parte da montagem de um musical sobre drag queens. Os ensaios aconteciam em um sobrado aqui em Copa. Embaixo de nossa janela as pessoas pregando Deus, esta es la juventud del papa e, da janela pra dentro, a pregação era toda purpurinada e regada a muito palavrão, música, corpos e peles sem medo de existirem. Praticamente um choque quando descia àquelas escadas de volta pra casa e pegava um engarrafamento a pé de mais de 10 minutos na calçada da minha rua. Trajeto que eu levaria 30 segundos pra fazer em um dia não abençoado. Até que a tão esperada sexta-feira chegou e, com ela, todo o meu desespero. Fiquei ilhada em casa. Ninguém entra, ninguém sai. Fui dormir na hora de acodar, entre apitos e gritos. Três milhões de pessoas disputando a minha rua, quer dizer, não é brincadeira. Um funil injusto. Se tava impossível sair de Copacabana, mais impossível ainda seria ficar. Pra minha sanidade mental eu fugi. Fugi como quem foge de casa sem chances de volta. Na bolsa a escova de dentes, blusa, própolis e calcinha extra. Sem data certa pra voltar. E comecei a peregrinar no fluxo contrário ao dos colegas. Três milhões de pessoas, cada uma com uma mochila nas costas multiplicando por dois o volume de gente. A confusão e a disputa por um lugar na pista. Atravessei o Tunel do Rio Sul me perguntando "Cadê os ladrôes essa hora???". Cheguei até um posto de bicicletas e garanti a minha. Me joguei na cicloovia, achando que estaria salva (já que as duas pistas de carro estavam liberadas para a caminhada), "lerdo engano". E, enquanto quase atropelava todo mundo, ouvia os maiores absurdos do mundo em um espaço de tempo tão curto. Primeiro uma mulher virou falando "olha lá, a menina é a maior drogadona" Só porque eu quase caí com a bicicleta de tanto rir quando vi um cartaz escrito "Papa Alma Zelosa" e, óbvio, lí Alma Sebosa. Depois um rapaz tirando foto no Aterro do Flamengo e pedindo pra amiga postar no instragão essa foto dele "aqui na praia de copacabana" (oi?). Sem contar as zilhões de vezes que ouvi gostosa, tesuda e variações de caras e bocas em todas as linguas desses jovens punheiteiros de Deus. Sem esquecer da moça que "olhaaa! achei ousado peregrinar de bike" e dos escritos nos muros de que cerveja dá aids. 

hehehe


Meu sábado começou animado e graças aos meus companheiros só terminou hoje, de volta à Copacabana e estranhando tanta paz.

E ainda tem gente que pergunta "imagina na copa!?" 

Qual a parte das 3 milhões de pessoas que eles não entenderam?

minha rua.

Rima



'amor, então,

também acaba?

não, que eu saiba

o que eu sei
é que se transforma
numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
ou em rima'
Leminski


e você vai ser rima. sempre e sempre. a certeza mais certa. uma decisão feliz que tomei na vida: a de permitir que você entrasse nela. e entrasse pra ficar. 

sexta-feira, julho 26, 2013

Pra que rimar amor e dor?

tá bem frio. dormi demais. sonhei demais. escuto a rua barulhenta e me esvazio no infinito azul dessa sala. hoje eu tô vazia. tanta coisa ao mesmo tempo e nada. escrevi tantas palavras, algumas até efusivas e hoje quase não falei. poucos ouviram minha voz, minha voz pouca, hoje. se alguém me perguntasse valendo muito dinheiro o que eu sinto exatamente agora, decerto eu falharia e perderia o prêmio. se alguém me abraçasse logo em seguida desse questionamento, eu acho que choraria. choraria de soluçar. choraria que nem chorei "sem razão" na descida do Teufelsberg. só pela energia do lugar. ou agora, pela energia do momento. um momento carregado de significações tão novas e cheio de interrogações à frente. eu sou uma molécula desse tamanico inserida em um contexto grande desse jeito. ontem me falaram 'queria entender o que você sente, perceber, sei lá' e em seguida a pessoa se arrependeu do questionamento que não chegou a virar uma pergunta, pediu desculpas, concluiu que não queria se machucar, direcionamos o assunto pra uma outra vertente. mais leve. não sei o que ando fazendo com meus olhos e meus braços e minha voz pra trazer tanto mistério onde não há. mora na filosofia, pra que rimar amor e dor? eu só estou vivendo. ficar em casa também é bom. chorar é bom. chegar em casa no outro dia à tarde, algumas vezes é bom. passar uma noitada inteira bebendo apenas água mineral, é bom. usar o blusão de um amigo em uma festa porque tá frio, é bom. não ser ou ser paquerada justamente por isso, é bom. dormir no chão é bom. ficar nua é bom. passar uma noite inteira abraçada em silêncio é bom. não se importar muito com essas coisas todas é bom. viver desse jeito tem assustado as pessoas. viver tem causado dúvidas, causado medo, espanto. eu sou mais humana. eu aprendi a sofrer. antes eu sofria aleatoriamente. eu culpava alguém. eu culpava nem que fossem os astros. hoje eu sofro em hamornia. não tem como ser apenas feliz. não cabe no peito só felicidade. minhas células precisam de frio, precisam de dor, precisam de solidão. 

aprendi a sofrer e sofrer tem sido um dos maiores aprendizados da minha vida. 

quarta-feira, julho 24, 2013

Desfazer

Seria bom se a opção 'desfazer' do gmail se expandisse para a fala.

terça-feira, julho 23, 2013

Transa

O desejo é maior do que ouvir, cheirar, degustar, tocar, olhar, ter esse disco. 
Queria mesmo era transar com Transa. 





The one II

                                                                                                                                  A Igor

Não lembro com precisão quando decidi isso, mas eu só casaria com alguém que tocasse um instrumento de sopro. De preferência sax, mas qualquer outro já estava dando para o gasto. A verdade é que, apesar de já ter namorado e tido uns affairs com músicos, nenhum deles soprava seus instrumentos e em sendo assim estavam previamente descartados no meu subconsciente. Então comecei a namorar sério, quando digo sério me refiro àquele namoro onde as pessoas medem os dedinhos em outros anéis pra saber o tamanho certinho da aliança, e esse namorado podia ser tudo, inclusive um excelente escritor, mas não tinha nada de músico, a memória sequer permitia que decorasse mais que três frases de uma canção até então desconhecida sem que gastasse uma energia mental e esforço estrondosos. Foi bingo quando aprendeu o refrão de 'cintura fina' e passou uma semana inteira cantando pra mim como quem carregava um troféu na voz. Até que certo dia cheguei em casa e lá estava ele sentado no sofá, propondo com o olhar que tinha uma surpresa e dizendo 'senta aqui junto', enquanto sacava de uma caixinha vermelha uma gaita comprada escondida de mim há algumas semanas. Me faltou o ar e, antes que eu falasse que ele não precisava aprender gaita só porque eu acho bonito, ele me silenciou quando começou a soprar, ansioso, nervoso, contente e cheio de preciosas pausas pra pensar na próxima nota 'Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora...'

Nesse instante desbancou todos os músicos quase famosos com quem já me enrosquei e constatei que o The One não precisaria tocar sax ou gaita ou trompete ou flauta, doce ou não. Precisaria me emocionar.

segunda-feira, julho 22, 2013

Fragmentos do fragmento de um todo chamado 'Vamo alí?'


'(...) e no caminho eu pensava: como será que ele é? Será igual àquela foto tão bonita? Não, não deve ser. Havia visto várias fotos e em cada uma eu concluia algo diferente. Eu podia já estar encantada sem nem conhecê-lo ou podia simplesmente acabar com essa ilusão em menos de um minuto, no primeiro contato. Se por um lado eu desejava que ele fosse a foto que eu não gostei, uma voz esquisita e um tênis de correr, por outro eu sonhava com ele daquele jeito que me fez dar um ou dois suspiros. Cheguei. O lugar era charmoso, entrei, sentei no balcão e pedi uma cerveja. Dei um 360 no olhar e logo o ví. Um alívio quase triste me bateu: ele era a pior foto de todas, um sorriso meio pevertido e um olhar que não diz nada, piscou pra mim. Dei um riso na intenção que ele viesse ao meu encontro e se apresentasse. Não aconteceu e persistiu no risinho do outro lado do balcão. E antes que eu esticasse meus lábios no tom mais amarelo que sou capaz de fazer, alguém cutucou meu ombro por trás: 'Carlinha?'. Me virei e um balãozinho imediato surgiu na parte superior esquerda da minha cabeça, escrito em letras garrafais: FUDEU. Ele era muito mais bonito do que a foto mais bonita que eu havia visto. Tinha os olhinhos brilhantes, o cabelo médio oleoso, uma combinação de blusa quadriculada com um agasalho um pouco formal que ficava no limítrofe da jeguice (a coisa mais linda), além de uma voz gostosa de ouvir tanta história e a necessidade que eu olhasse sempre pra cima pra observá-lo existir com seus longos braços que davam forma a tudo, a cada palavra. Saímos pra comprar cerveja traficada.

Dai em diante pouco importava o tênis que ele tava usando (...)'

domingo, julho 21, 2013

Tenderly

                                                                                                                                A Mauricio

-O abraço foi folgado pra você não sentir meu coração disparado. E saí apressado porque tava me sentindo sujinho e fedidinho

-Você tava lindo com blusa surradinha e cabelo oleoso. Quando você entender que eu gosto de você, vai passar a entender que fica bonito de banho tomado e roupinha legal e que fica bonito sujinho e fedidinho também


-Não consigo entender mesmo eu acho
Porque acho você tão linda, ai não bate, sabe? É como se eu não te desse o direito


-Me permitir conhecer o que pra você são fragilidades - o cabelo oleoso, a blusinha surradinha do miles e o coração disparado, só faz eu gostar (ainda) mais de você

-Você é essa música

Pudera eu ser essa música tão bonita, foi o que pensei



Não corre mais do meu abraço por coisas tão pequenas, sentir um coração disparado nunca vai ser pra mim um problema, bastava você sentir como o meu tá agora pra saber.






sábado, julho 20, 2013

Devir

era ontem
hoje não
amanhã
vá saber
do ir e vir 
de cada dia

sexta-feira, julho 19, 2013

Começou

Entro nas lojas Americanas e me deparo com uma fila gigante e atipica para o horário. Música de Deus trilhando meus pensamentos. Na fila, uma garotada alegre com salgadinhos e latinhas de refrigerante nas mãos e acessórios JMJ por todos os lados. "Puta que me pariu, essa merda começou" foi o que pensei em voz enquanto os jovens me olhavam quase metralhando. Sai da loja sem meu diamante negro e sem a chance do perdão on-line do Papa, amém.

quinta-feira, julho 18, 2013

Correos CTA Barcelona


Eu ainda tô tremendo, mas vou escrever tremendo mesmo. Porque se eu não escrever agora, vou ser orgulhosa e não vou escrever nunca mais. Vou dizer algo como obrigada, fiquei contente e passar adiante. Vou escrever porque gosto da capacidade de me surpreender e te digo que, mais do que a surpresa desse envelopinho branco com um selo da Espanha e teu nome todo importante seguido do endereço do pis Joanic mais louco da vida, foi a surpresa que tive em sentir o que eu, ainda ontem, pensei não mais sentir, cheia de um orgulho bobo. Esse rebuliço todo. Essa foto é linda, é linda! O postal é aquele quadro que tirei mil fotos tua na frente e nenhuma prestou, né? Saísse com cara de tanga de sereia em todas elas. Mas aviso logo que revelei, afinal, a gente não precisa sair feito modelo em todas, né? Ainda te digo que esse postal fui eu quem encontrou no La Escocesa e te dei. Te dei não, você, amarrando o cadarço, me pediu quase ordenando quando me viu descobrindo eles: "pega um de cada pra mim!!!". Só não sabíamos que ele voltaria às minhas mãos. A tua letrinha é feia e tremida mas o conteúdo é, pra mim, dos mais preciosos. Senti daqui, oito dias depois de tua partida, o peso que foi dar tchau pra Joanic, pra Mathieu, Laura, Axel, Laia, Marina, Sandra, a galera, os sofás e a mesa da sala, os chapéus das festas de fim de noite, a cozinha de todos, ao teu último andar na geladeira (que você também ocupava o penultimo andar na cara de pau), como deve ter sido pesado usar a manteiga de mathieu escondido pela última vez (hehe) Como foi tirar aquelas blusas penduradas na arara e do varal e guardá-las em uma mala. Guardando as coisas em uma mala como se isso fosse normal. Esvaziar tudo e deixar só aquela cortina azul que tanto gosto. Espero que tenha sido que nem no dia em que eu fiz minha bolsa aí, entre beijos, agarros e uma festa badalada na sala. Entre a mala e o licor de café. Deixar Barcelona é coisa que ainda não sei bem como lidar, por que deixar Barcelona foi te deixar também. Faz pouco tempo que consegui digerir tudo isso, que consegui colocar cada coisa em seu lugar, cada pessoa no seu país, que parei de contar cinco horas à frente pra te imaginar sorrindo e sorrir junto em algum lugar legal. Faz pouco tempo que meu coração parou de bater feito metralhadora ao ver alguma foto tua, ao ler alguma linha tua. Faz pouco tempo. Foi quando você voltou pra Alemanha e então não saber da tua nova rotina foi a maneira que meu coração encontrou de não mais calcular as horas do fuso, pois não fazia mais diferença alguma se fossem nove da noite ou nove da manhã, eu não imaginaria mais nada. Barcelona ficou e você ficou em Barcelona. E agora faz pouco tempo, menos de meia hora, que vejo que vou precisar de mais um tempo pra inventar mais alguma coisa pra enganar o pobre do meu coração. E acreditar novamente nessa nova coisa. Mas, mesmo que eu acredite nessa coisa nova, eu fico com essa tua frase final do postal:

"sei que um dia nos encontraremos"

besito muy grande, brechtinho!




Entra pra ver


Não mudei as certezas de lugar. 

Acho que fui um pouco mais adiante pegando quase todas elas e dissolvendo-as em possibilidades. Entra pra ver, mas deixa as certezas na porta.

A guerra é apenas pra quem quer

É muito maluco isso que a gente tá vivendo. No dia 20 de junho lá estava eu nas redondezas da Prefeitura do Rio tomando bomba de gás lacrimogêneo por todos os lados e ontem, menos de um mês depois, ouvia toda a movimentação de dentro do meu apartamento, de banho tomado, pijama, um copo de água ao lado da cama, um livro nas mãos e a cortina cerrada. (Quase) que como se nada tivesse acontecendo. Ter a opção de escolher se quer ou não estar em uma guerra que acontece do nosso lado é um conceito que ainda não estudei.

Insônia?

Não, dessa vez são os helicopteros de Cabral sobrevoando minha casa como se bandido eu fosse. Peguei meu livro pra puxar o sono como de costume e não vou me render. O barulho das hélices a todo vapor vai ser tão e somente o efeito especial pra dar mais emoção ao Processo de Kafka.

quarta-feira, julho 17, 2013

Problema resolvido

Uma média e um pão na chapa, foi o que pedi naquela noite, na padaria de esquina com o hospital São Lucas. O clima tava tenso, uma noite com mais horas que o normal. Enquanto eu tomava meu lanche em pé e com pressa no balcão, um mocinho varria o chão da padaria freneticamente. Começou a varrer próximo aos meus pés e, como se fosse um jogo, começou a contornar meus pés. Eu tava por demais cansada, tensa e triste pra dar atenção a tamanha falta de tato do rapaz que mais tarde percebi ter sido falta de tato meu, em não reparar que ele tinha algum problema mental. E em pé continuei, engolindo aquele lanche forçado.

- Casa mais eu, casa?
- Oi?? 
- Apôis também num casa com mais ninguém!

O rapaz encerrou o diálogo assim enquanto varria meus dois pés sem piedade.

Ele mal sabia que tava resolvendo pra mim uma questão. Pronto, não caso mais!

terça-feira, julho 16, 2013

Os próximos amores


A Igor


É fundo. É muito
É muito fundo 
Cava até a pontinha do último dedo do pé 
e depois continua a percorrer 
por caminhos que não conheço


Os próximos amores poderão ter os cabelos escuros e grisalhos, mas nunca com caspas pra eu arrancar uma por uma cuidadosamente

Poderão adorar minha comida, mas nunca mentir que é a melhor do mundo

Os próximos amores poderão morar em rua com nome bonito, mas que não cheire a dama da noite

Poderão acordar de mãos dadas comigo e com sede de sexo, mas nunca com fome de pão na chapa

Os próximos amores poderão ter problema nos joelhos, mas nunca dizer que 'hoje dei um tranco'. A questão não é machucar o joelho hoje, a questão é usar a palavra tranco

Poderão quebrar o dedo e ficar com a mão que escreve imobilizada por muito tempo, mas não deverão me escrever uma carta de duas páginas com a outra mão (a que não escreve) de maneira impecável como prova de amor

E, sobretudo, os próximos amores poderão e preferencialmente terão os olhos ou o sorriso infantis. Mas nunca - eu disse nunca - poderão ter os dois ao mesmo tempo. Olhos apertadinhos e brilhantes e sorriso com dentes graúdos e em estado de graça, em estado de semente. Olhos e sorrisos conversando em uma linguagem que não passa das vogais por extrapolarem na linguagem do amor. Não poderão ser assim, pois se por acaso vierem a ser, correrão um risco imenso de ser um amor feito aquele

Feito aquele, sim, só que menor




segunda-feira, julho 15, 2013

Das memórias afetivas - Cartas



Fazer uma mudança, além do novo tão óbvio, também é se encontrar com o passado. Com o que fomos e com o que somos graças àquilo tudo, à toda essa bagagem. Dentre todas as coisas que guardo, minhas cartas são as mais preciosas. Guardo-as com todo amor do mundo. Elas têm o mesmo nível de valor das minhas fotografias, na verdade elas são fotografias em forma de voz, mesmo as vozes que a gente já não ouve há tanto tempo e sequer lembra do timbre, mas ela tá alí, registrada em linhas tão íntimas, certas, reais. Agora, agorinha mesmo, enquanto escrevo esse texto, estou entre caixas de papelão, fita cor parda, livros e cartas. E, ao embalar essas coisas, acabei não resistindo e lendo-as mais uma vez na vida - não sei quantas vezes já vivenciamos esse momento, eu e elas, mas foi gostoso poder rever que o amor muda, se transforma mesmo, mas que fica eternizado alí. E como é bom mergulhar nessa nostalgia vez por outra. Pra casa nova eu quero deixar todas as quinquilharias pra trás. Qualquer coisa que pese demais na bagagem. Que não acrescente. Abro mão de tudo, mais uma vez. Apesar de nem ter mais tanta coisa, eu abro mão das roupas e sapatos que não uso faz tempo, de uns acessórios bobos e levo apenas meus livros, discos, fotografias, a coleção de areia e, claro, minhas cartas. 

Abaixo, um bilhetinho bonito do meu amigo Thales. De um amor que já mudou tantas vezes mas que, de alguma maneira, continua a existir.

"Você é encontro com alguém e comigo, na busca por te encontrar completa - com o mais de seis e o escambau que gente assim funda carrega no mistério. Não sei bem dizer o que esse encontro fez explodir na minha vida e na não-vida, mas posso afirmar que trombar com você é coisa que toma de assalto uma existência. Te amo sempre, mas sempre te odeio antes e depois."

Batom vermelho



Não é pra qualquer mulher
qualquer lábio 
qualquer dia 

Do que vale uma boca carmim 
e o espirito não?

domingo, julho 14, 2013

"Carlinha quer fazer carreira solo!"

- Carlinha já fez todo tipo de dança, dança de tudo essa menina! (é o que costumo ouvir)
- Mentira, eu nunca fiz dança de salão. E o tango só foi um mês, não conta (é o que costumo responder)
- Tu que tas mentindo, você vivia se amostrando e dando show na Cubana da Bela Vista. (é o que costumo ouvir)
- Sim, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. (é o que costumo responder)

Mas quando me perguntam o motivo de eu não fazer dança de salão, eu sempre esqueço! Ai hoje, ao ouvir "Carlinha quer fazer carreira solo" em uma aula de salsa e bachata, quando dei continuidade em um passo antes de receber o comando, me lembrei: Salto alto é o inimigo que se mostra primeiro. Mas o principal e mais feroz é o parceiro. A expressão "A dama tem que ser conduzida pelo cavalheiro" me deixa de cabelo em pé. É dependência demais pra mim. Ser conduzida por alguém. Respira fundo e vai. 
Vou me esforçar, ao menos na dança.



sábado, julho 13, 2013

Clapton song


Quando uma música (já bem gasta) deixa de ser 4`35 de entretenimento e passa a contar uma história (bem bonita) e maior que 4`35.




sexta-feira, julho 12, 2013

history of my life

Fui alí fazer uma coisa mas acabei fazendo outra(s). Qual era a coisa inicial mesmo?

quinta-feira, julho 11, 2013

Além de delinquente é mal educada


Foi o que o moço do taxi pensou de mim. Primeiro entro no carro dizendo pra minha mãe que não sei se serei capaz de perdoá-la por ter me impedido de sair da loja com o carrinho de compras sendo empurrado os seis quarteirões até em casa. E, depois dela muito relutar em defesa própria, acabou caindo em tentação, pra desespero do motorista que devia ser de Deus - É, se bem que umas plantinhas alí dentro iam ficar lindas, né...  -Mas moça, como a senhora ainda influencia essas ideias na cabeça da menina? isso é roubo, um negócio que não é seu, ilegal, sei que lá, meia hora de sermão e de cara de bunda da minha mãe e de um descontrole emocional meu - não conseguia segurar o riso. Depois do discurso, respirei fundo e, nesse instante ingrato, um catarro daqueles desceu guela abaixo com aquele barulho estrondoso que a garganta faz nesses casos, barulho molhado. Barulho quase sólido e amarelado que a gente costuma ouvir nos botequins pega bêbo do Rio de Janeiro, daqueles homens só de bermuda meio sujinha, com um pé descansado na altura um pouco mais pra cima do joelho, enquanto o chinelo aguarda no chão. - Agora já era, foi o que pensei enquanto minha mãe, roxa de vergonha, escondia meu rosto contra seu peito. O motorista não conseguiu segurar e deu uma gaitada e eu, me perdoem caros, engoli o catarro, já que cuspir pela janela seria (ainda) mais bizarro. Pois é, provavelmente serei assunto do jantar daquele rapaz: uma menina delinquente, mal educada e injuriada por não ter aquele carrinho de compras (liiindo) agora, em casa, prazer.

Decidi, decidido



Decidi que não vou (mais) machucar meu coração com pontadinha por coisa pequena, ou ao menos menor que eu.
Decidi que pontadinha nessa região é incômoda, pois se espalha até a garganta e depois volta rasgando bem lentamente, feito veneno, um veneno que não quero tomar.

Decidi que, pontadinha, só de cólica ou gases. Decidi, decidido está. 




quarta-feira, julho 10, 2013

aquele corpo

Reconhecer o corpo enrolado naquele lençol branco com fita crepe foi, de longe, a coisa mais deprimente que fiz na vida. meu avô já não tava alí. podia ser qualquer outro. só um corpo abatido empacotado por inteiro em um lençol branco amarrado com fita crepe das grossas. podia ser meu avô, fiscal da receita federal e seus 20 mil reais mensais que vão bancar aquela vagabunda ou podia ser o moço que dorme em frente ao hospital, no chão frio. frio feito o corpo do meu avô. que podia ser o corpo de qualquer outro. mas era o dele. e, naquele hospital, naquela sala tão sem ar, não poderia ser qualquer outro pra reconhecer aquele corpo que não fosse eu, aquele corpo feito de carne - quase podre. a carne é podre, rasa. a alma é vasta. amém.

terça-feira, julho 09, 2013

duas linhas e toda a nossa paciência

E ainda tem gente que me pergunta o motivo de eu ter gostado tanto dessa tal de Europa. 

segunda-feira, julho 08, 2013

talvez migrar


Se algum dia alguém me mostrar algo mais cafona coração que o amor, eu deixo o amor de lado pra escrever sobre essa outra mesma coisa.

meus 20 anos de boy, that`s over, baby!

Observo que a idade ta chegando quando, no lugar de acordar com uma ressaca de uma garrafa de uísque pra dois, acordo doente. é a segunda vez que procede assim. deve ser um sinal. não. deve mesmo ser um fato.

sexta-feira, julho 05, 2013

doisemum

Fotógrafo é aquele que enxerga moldura em cenas do cotidiano que outras pessoas não veem

Poeta é aquele que escreve sobre isso


Guga Pimentel emoldurando com classe

nova moda

Olha a empada, olha a empaaaaada!

- buenas tardes, chica!
- boa tarde!
- ué, você fala português?
- sim, sou daqui, rapaz
- nem parece...
- por que não?
- esse amarrado no cabelo e também... que a moça ai ta de calcinha, né???? isso é coisa de gringo.

- eita! é que eu vim de última hora
- aiai se essa moda pega....

confissão


passo protetor solar com objetivo primeiro de sentir o cheiro

quinta-feira, julho 04, 2013

blueful



the blue has gone ...
... the blue is coming

i'm blue, i'm blue. can you catch me, baby? i'm blue. i'm blueful.

my beatles song

De alguma maneira que acho que nunca vou e nem pretendo explicar, for no one sempre ganha com um espaço absurdo de distância! Melodia, letra, sensações.




quarta-feira, julho 03, 2013

maratonista

Pensei que se eu corresse o mais rápido que pudesse, poderia escapar de mim por alguns instantes e escapar de mim seria uma maneira de escapar de você. Até me alcançar novamente, eu e o eu que corre atrás de mim, juntos e renovados. Corri Copacabana inteira, mas acho que não corri rápido o suficiente. 

à vida

Até hoje eu nunca havia doado sangue. Motivo não me faltava: o peso pena, a anemia, o fato de sempre passar muito mal quando tiro sangue (que dirá uma bolsa de 450 ml) e, por mais vergonhoso que pareça, preciso ser sincera: sei que mesmo que se tivesse o peso e o sangue forte, provavelmente não teria doado por medo, por não ver alguém meu precisando ou pelo dia tá mais bonito pra praia do que pra um consultório médico. Mas era mais confortável dizer que não podia doar por pesar 49 quilos e isso tirava toda a culpa. Hoje o quadro mudou. Meu avô tá internado faz mais de um mês e até agora já usou 68 bolsas de sangue. Sei que ele não vai deixar de receber um sanguezinho bom caso a gente não consiga a quantidade (grande) de doadores que o hospital pede. Mas a consciência bateu pesado, 68 bolsas? Caramba, tem que doar. Todo mundo tem que doar! Como assim as pessoas não fazem desse ato de dez minutos uma rotina de 3 em 3 meses? E, enquanto me perguntava isso, me sentia um ser menor que aquela bolsa transparente sendo preenchida pelo meu líquido vermelho: até hoje eu era parte desse todo mundo. Deixei o medo em casa, aproveitei os dois quilos que angariei em 3 meses de viagem e fui. As médicas me pesaram e, ao verem meus 50.4 falaram que era melhor não. Que 0.4 era só de roupa e que 50 cravado podia ser arriscado, que eu quase não tinha veia (???) e que eu podia passar mal. "Moça, se passar mal, passou, ó minha cara de preocupada com isso", foi o que disse enquanto ela ria e concordava finalizando com um "Tudo bem, a gente tira o mínimo que dá pra aproveitar, que é 360 ml, tá certo?" "tá certo". E, entre um assunto e outro, sotaques, Recife, carnaval, Arrail d'ajuda, emprego, namoro, minha bolsa foi enchendo lentamente. "Seu fluxo tá tão baixo, 20 ml por minuto. Abre e fecha as mãos!" Tonteira. "Mais uma vez." melhorou. "Eita, agora tá ótimo! 45 ml por minuto. Faltam apenas 70 ml." "Coloca o resto, moça, preenche essa bolsinha toda". "seu peso só permite no máximo 400" "manda bala" "meniiina..." "vai, moça, oxe!" "oxe haha ok". Bolsa quase toda preenchida, soro na veia, veia que não aguentou todo o soro, ardor, algodão, gelo, "até logo". "até daqui a três meses!" "Alí tem um lanche gostoso." "Obrigada!"

E aquele suco de laranja desceu com o mesmo sentimento de quando bebemos aquela cerveja estupidamente gelada em uma sexta à noite quando não temos nada de específico pra brindar e simplesmente brindamos a vida! à vida, cheers!   

segunda-feira, julho 01, 2013

irremediável

O fim da tarde chega e a melancolia se deita na minha janela em cor laranja, rosa, azul petróleo, cinza e, por fim, vai embora tingindo um escuro quase negro. Na maioria das vezes eu não tô aqui pra ver, mas a melancolia se debruça em minha janela entre cinco e seis da tarde. Mesmo quando chove ou o leque de cores é reduzido, ela vem. Todos os dias.

olhos solares

(...) me disparo a falar e quando vejo, não vejo mais nada. Fico cega de minha própria luz. É que meus olhos viram dois faróis incandescentes que se movimentam em rotação e translação quando o assunto é você.